Jul
11
Por João Martins da Silva
O movimento que culminou com a consolidação da Gestão pela Qualidade Total (GQT ou TQM) teve impulso definitivo no Japão, em agosto de 1950, quando o americano W. Edwards Deming deu sua palestra histórica para líderes empresariais responsáveis por cerca de 80% do PIB daquele país. Tendo-se exaurido a era da dominação pela força, bem como a possibilidade da obtenção do lucro sustentável sem responsabilidade social, as contingências levaram ao desenvolvimento de uma gestão que absorvesse tecnologia e valores padrão mundial, a partir das pessoas. A gestão para o lucro, sem apego à dignidade humana, teve origem nos primórdios da Revolução Industrial. As organizações têm sido pressionadas ao longo da História para se posicionarem com clareza quanto à sua responsabilidade ou irresponsabilidade social.
Empresários que fizeram a segunda opção deixaram uma marca de vergonha e infâmia em sua biografia. Exploraram crianças na extração de carvão em minas subterrâneas insalubres. Queimaram trabalhadoras que lutavam para diminuir sua carga de trabalho de 17 para 13 horas diárias. Ainda hoje o mercado permite que se chegue às raias do absurdo, embora a mão invisível da justiça espalhe por todo lado armadilhas que levam à morte e à desmoralização as organizações que fazem essa opção. No Brasil, a grande imprensa tem relatado casos de empresas cujo lucro é garantido pelo trabalho escravo, violência moral e destruição sistemática e cruel da saúde dos trabalhadores. O pior é que algumas organizações, após estabelecerem compromisso com a GQT, regrediram ao estado pré-taylorista. Algumas delas, para disfarçar sua guinada rumo à irresponsabilidade, investem na propaganda da responsabilidade social.
As organizações que se mantêm firme em sua opção pela Qualidade, adotam uma ética pro-ativa na busca da satisfação de todos os públicos que afetam a sua existência. Partindo de uma base tecnológica atualizada, ou simplesmente evoluindo a partir da base existente, investem na seleção das pessoas mais adequadas, com o compromisso de realizar o seu potencial de produtividade e de crescimento como seres humanos. Essa postura tem sido a marca das empresas respeitadas pelos trabalhadores, pelos consumidores e pelos investidores de longo prazo. Elas trabalham duro, mas com inteligência, e preparam-se para sobreviver nos piores cenários futuros. Apesar de serem imperfeitas, seu lucro é inerentemente limpo, pois orientam-se por princípios universais. Admiradas no presente, essas organizações apontam o caminho obrigatório para o futuro do homem racional.
As empresas que só enxergam o lucro, independente dos passivos gerados, podem ser chamadas de “revolucionárias”, pois incitam corações e mentes optarem por sistemas sociais fechados. Por outro lado, empresários sérios têm alertado que as condições para a existência de empresas cidadãs dependem da existência de instituições sadias ou doentes. Nas condições que têm prevalecido no Brasil, garantem, a competência e a integridade têm sido punidas. Nesse cenário, só o fato de se conseguir lucro de forma limpa já constitui demonstração de excepcional competência e espírito de cidadania, reforçando a estrutura orgânica dessas empresas para futuros incertos. A opção pela Qualidade precede o lucro honesto, enquanto o lucro temerário precede o caminho da desmoralização e da rejeição social.
Fonte: SILVA, João Martins da. Qualidade e lucro. UBQ, 15 de julho de 2013 (link original).
ISDG - INSTITUTO SIMPLES DE DESENVOLVIMENTO GERENCIAL